Ana, Superando Penina e a Esterilidade

“Meu coração se alegra no Senhor; o Senhor me fortaleceu! Agora dou risada de meus inimigos; sim, eu me alegro porque me libertaste! Quem vê Ana cantando assim em 1 Samuel 3:1, nem imagina a jornada de dor que ela enfrentou até chegar a este momento de louvor. Ela era uma das esposas de Elcana e mãe do profeta Samuel, um dos grandes líderes de Israel. 

Ana enfrentou a dor da esterilidade em uma época em que ser mãe era altamente valorizada. Sua rival, Penina, outra esposa de Elcana, tinha filhos e muitas vezes provocava Ana por não poder conceber. Essa rivalidade intensa e a esterilidade aumentou o sofrimento de Ana, tornando sua luta emocional e espiritual ainda mais intensa.

Em meio a essa dor, Ana orou fervorosamente, derramando seu coração diante de Deus, no templo. Ela fez um voto, prometendo entregar seu filho ao serviço sacerdotal, se Deus lhe permitisse conceber. Deus atendeu seu clamor, e Ana deu à luz Samuel. Assim, superou a rivalidade e a esterilidade, quando seu desejo pessoal de ter um filho se alinhou com o propósito de Deus de levantar um profeta em Israel. 

Contexto Histórico e Familiar

Contexto Histórico

A história de Ana se passou durante o período dos juízes em Israel, uma época de grande instabilidade política e espiritual. Este período, que precedeu a monarquia israelense, foi um tempo em que “cada um fazia o que parecia certo aos seus próprios olhos” (Juízes 21:25), refletindo a falta de liderança centralizada e a decadência moral e religiosa do povo. Vivendo, portanto, repetidos ciclos de desobediência a Deus, opressão estrangeira, clamor por ajuda e libertação que vinha por meio de juízes. O clima de incerteza e turbulência espiritual moldava a vida cotidiana e religiosa do povo de Israel. 

Quem era Ana?

Ana era uma mulher devota e fiel, casada com Elcana, um homem piedoso da tribo de Efraim. Apesar de sua fé, Ana enfrentou o desafio da esterilidade, o que lhe causou grande sofrimento. Naquele tempo, a esterilidade era vista como uma maldição e uma fonte de vergonha para as mulheres, tornando a dor de Ana ainda mais profunda. Ela ansiava por um filho, não apenas para cumprir seu papel na sociedade, mas também para satisfazer seu desejo pessoal.

Dinâmica Familiar

Elcana tinha duas esposas, Ana e Penina. Embora a poligamia fosse culturalmente aceitável na época, isso muitas vezes criava tensões familiares. Elcana amava profundamente Ana, mas sua outra esposa, Penina, também desempenhava um papel significativo na família. Penina tinha filhos, enquanto Ana era estéril, o que criava uma rivalidade amarga entre as duas mulheres. Penina frequentemente provocava Ana por sua incapacidade de ter filhos, exacerbando sua dor e sofrimento. 

Quem Era Elcana?

Elcana era um homem piedoso da tribo de Efraim e era um levita, descendente de Coate. Conhecido principalmente por ser o marido de Ana e Penina, e o pai do profeta Samuel. Sua devoção a Deus e sua prática religiosa regular destacam-se na narrativa bíblica, mostrando-o como um homem de fé que segue os mandamentos e participa ativamente dos rituais sagrados de Israel.

A Postura de Elcana

Elcana, o marido de Ana e Penina, desempenhava um papel complicado nessa dinâmica familiar. Elcana tentou equilibrar essa tensão familiar com amor e cuidado. Ele amava Ana profundamente e demonstrava seu carinho de várias maneiras, tentando consolar sua tristeza. Em um momento de compaixão, Elcana perguntou a Ana: “Ana, por que choras? E por que não comes? Por que estás triste? Não sou eu melhor para você do que dez filhos?” (1 Samuel 1:8). Esta pergunta reflete seu desejo de aliviar a dor de Ana e fortalecer o valor dela para ele, apesar de sua incapacidade de ter filhos.

Como Elcana Honrava Ana

O amor de Elcana por Ana era evidente em suas ações. Durante as viagens anuais ao tabernáculo em Siló para oferecer sacrifícios, Elcana dava porções à Penina e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas, mas a Ana dava porção dupla dos sacrifícios. “Porém a Ana dava uma parte excelente; porque amava a Ana, embora o Senhor lhe tivesse cerrado a madre.” (I Samuel 1:5). 

Na cultura bíblica, as porções de sacrifícios eram uma forma de honrar e mostrar afeto. Ao dar a Ana uma peça dupla, Elcana demonstrou publicamente seu amor e preferência por ela, tentando compensar a dor que Penina causou com suas provocações. Esta ação simbólica foi uma tentativa de consolar Ana e reafirmar seu valor, mostrando que, apesar de sua esterilidade, ela era profundamente amada e respeitada por ele.

A Esterilidade de Ana e a Rivalidade com Penina

Na sociedade bíblica, a maternidade era altamente valorizada e considerada uma vitória divina. As mulheres eram frequentemente julgadas por sua capacidade de gerar filhos. Ter filhos assegurava a continuidade da linhagem familiar e proporcionava segurança e status à mulher. 

Dor Emocional e Espiritual 

A esterilidade de Ana era uma fonte de grande dor, trazendo-lhe uma profunda dor emocional e espiritual. Ela se sentia incompleta e envergonhada por não poder cumprir o papel esperado de uma esposa na cultura de sua época. Sua incapacidade de conceber a fazia sofrer intensamente, e esse sofrimento era exacerbado pela pressão social e pelo desejo pessoal de ser mãe. A angústia de Ana era profunda, não apenas pela falta de filhos, mas também pela constante humilhação que enfrentava de Penina.

A Rivalidade com Penina

A relação entre Ana e Penina foi marcada por conflitos e tensão. Penina, a outra esposa de Elcana, provocou Ana de diversas maneiras, aproveitando cada oportunidade para lembrar sua incapacidade de ter filhos. Em 1 Samuel 1: 6 e 7 descreve muito bem essa rivalidade: “E a sua rival excessivamente a provocava, para a irritar; porque o Senhor lhe tinha cerrado a madre.” e “Sempre que Ana subia à casa do Senhor, a outra a irritava; por isso chorava, e não comia.”.

Como visto, as provocações de Penina eram cruéis e constantes, causando uma dor profunda e humilhação para Ana, que se sentia isolada e desamparada.  Essa rivalidade não era apenas uma questão de ciúmes, mas também refletia as pressões sociais e culturais da época. 

No entanto, a dor de Ana levou-a a buscar consolo em Deus, colocando sua fé na prática através de uma oração fervorosa e sincera.Ana se sentia isolada e desamparada, buscando consolo na sua fé e na oração fervorosa a Deus.

A Clamor de Ana

Tristeza Insuportável

Quando a dor da esterilidade e as provocações de Penina se tornaram insuportáveis, Ana buscou refúgio na oração. Ana foi ao templo do Senhor em Siló para orar com grande aflição de alma. O templo era um lugar sagrado onde os israelitas vinham buscar a presença de Deus e oferecer seus pedidos e agradecimentos. 

Oração Intensa

Em sua angústia, ela “orou ao Senhor, e chorou abundantemente” (1 Samuel 1:10). O texto bíblico destaca que “orava Ana no seu coração, e só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz” (1 Samuel 1:13), mostrando a intensidade de sua comunhão com Deus naquele momento crucial. Ana derramou seu coração diante de Deus, expressando sua angústia, sua tristeza e sua profunda necessidade de um filho. 

O Voto de Ana

No tabernáculo, Ana fez uma promessa ao Senhor, dizendo: “Senhor dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida” (1 Samuel 1:11). Ana não apenas suplicou a Deus por uma criança, mas também fez um voto solene: se Deus lhe desse um filho, ela o dedicaria ao serviço divino por toda a sua vida. Essa promessa era um sinal de devoção e do compromisso de Ana com Deus..

A Resposta de Deus

Ana e o Sacerdote Eli 

Quando Ana foi ao templo de Siló para orar fervorosamente, sua angústia era tão intensa que seus lábios se moviam sem emitir som audível. O sacerdote Eli, vendo-a nesta condição, inicialmente se confundiu com alguém embriagado. Ele disse a ela: “Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho” (1 Samuel 1:14). No entanto, Ana explicou que não estava bêbada, mas sim aflita de espírito, derramando seu coração perante o Senhor. Diante dessa sincera demonstração de devoção, Eli a abençoou, dizendo: “Vai em paz; e o Deus de Israel te concede a petição que lhe fizeste” (1 Samuel 1:17). Essas palavras proféticas fortaleceram Ana, aumentando sua confiança na resposta divina.

A Resposta de Deus 

Deus ouviu a oração fervorosa de Ana e atendeu ao seu clamor. Ele se lembrou dela e a fez conceber um filho. Ana deu à luz um menino, a quem chamou de Samuel, significando “pedido a Deus”: “Eu o pedi ao Senhor; pelo que também eu o entreguei ao Senhor; todos os dias da sua vida não serão tosquiados” (1 Samuel 1:27-28 ). 

Ana Queria um Filho – Deus Queria um Profeta

A alegria de Ana não foi apenas pela vitória de ter um filho, mas também pela confirmação do propósito divino em sua vida e na nação de Israel. Samuel veio ao mundo não apenas como uma resposta direta à oração de Ana, mas como parte de um plano divino maior para Israel, que naquele tempo necessitava de líderes e profetas comprometidos com Deus. Samuel cresceu para se tornar um dos maiores profetas e juízes de Israel, cumprindo fielmente o chamado de Deus e deixando um legado de fé e liderança para as gerações futuras.

A Vida Transformada de Ana

Superando a Rivalidade e Esterilidade

O nascimento de Samuel trouxe uma profunda alegria para Ana, como fica evidente em 1 Samuel 2:1: “Agora dou risada de meus inimigos; sim, eu me alegro porque me libertaste!”. Após anos de sofrimento devido à esterilidade e à rivalidade com Penina, a vida de Ana e a dinâmica familiar mudou significativamente com a chegada de Samuel. Ele não era apenas um filho para Ana e Elcana, mas um símbolo vivo da fidelidade de Deus e de sua resposta às orações sinceras. A presença de Samuel trouxe uma nova luz ao lar, restaurando a esperança onde antes havia desespero. 

O Cumprimento do Voto de Ana

Ana, comprometida com seu voto a Deus, cuidava do menino até que ele fosse desmamado para o entregar para sempre aos serviços do Senhor. Após o desmame de Samuel, Ana cumpriu fielmente seu voto. Este ato não foi apenas um cumprimento de uma promessa feita em desespero, mas uma demonstração tangível de sua crença em Deus e seu reconhecimento de que Samuel era um presente de Deus, pertencente a Ele desde o início.

A Entrega de Samuel no Templo 

Ana levou Samuel ao templo do Senhor em Siló, entregando-o aos cuidados do sacerdote Eli, dizendo: “Ah, meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR. Por este menino orava eu; e o Senhor atendeu à minha petição, que eu lhe tinha feito. 28 Por isso também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao Senhor foi pedido.”

O Cântico de Ana

Ana expressou sua gratidão a Deus através de um cântico emocionante, conhecido como o “Cântico de Ana”. Ela exclamou em louvor a Deus: “A minha alma se alegra no Senhor, e o meu espírito se regozija em Deus meu Salvador” (1 Samuel 2:1). Este cântico não apenas celebrou a vitória de Samuel, mas exaltou a grandeza e o poder de Deus, confirmando que Ele é o Senhor soberano sobre todas as situações da vida.

Conclusão

A jornada de Ana é uma história de perseverança, fé e superação. Ela passou anos de esterilidade, uma condição que na sociedade da época era vista como vergonhosa e um sinal de desgaste. Além disso, Ana lidou com as provocações constantes de Penina, que a colocava em uma situação de grande angústia emocional.

A história de Ana oferece lições sobre como lidar com provocações e rivalidades. Apesar das constantes provocações de Penina, da profunda dor e vergonha, Ana não revidou. Ana nos ensina a responder às provocações com paciência, humildade e fé, buscando consolo e direção divina em momentos de dificuldade.

O desejo ardente de Ana por um filho não era apenas um desejo pessoal; era um alinhamento com a vontade soberana de Deus para ela e para a nação de Israel. Ana ansiava por um filho para preencher seu coração com alegria materna, enquanto Deus, em Sua sabedoria divina, desejava não apenas atender ao pedido de Ana, mas também estabelecer um profeta dedicado para guiar Israel em tempos de incerteza e necessidade espiritual.

A história de Ana e o nascimento de Samuel não é apenas um testemunho de resposta às orações individuais, mas também um lembrete poderoso de como os propósitos de Deus transcendem nossos desejos pessoais, moldando e direcionando vidas para cumprir Seu plano perfeito.

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