Seria possível medir a fé de alguém? A resposta é sim: pelas suas obras. Abraão é conhecido como o “Pai da Fé” por uma razão: sua obediência a Deus, que ressaltou uma fé simplesmente extraordinária. Sua jornada de fé é sem precedentes, assegurando-lhe um legado que perpassou os séculos e chegou a nós.
Abrão recebeu um chamado divino para deixar sua terra natal e a casa de seu pai, para ir a uma terra completamente desconhecida. Deus prometeu que o tornaria pai de uma grande nação e que, através dele, todas as famílias da terra seriam abençoadas. Abraão respondeu com fé e obediência e trilhou uma jornada que fundamentou a história do povo de Israel e a herança espiritual que nos acompanha.
Veremos, aqui, os principais eventos que marcaram a trajetória de provações e vitórias do patriarca da fé. Sua fé e disposição, nos convida a refletir sobre nossa própria jornada de fé. Que passos estamos dispostos a dar em direção ao desconhecido para viver uma grande promessa?
O Patriarca da Fé
Origem Familiar
Abrão, que mais tarde será chamado Abraão, era filho de Terá e tinha dois irmãos, Naor e Harã (Gênesis 11:27-31). Sua esposa chamava-se Sarai (mais tarde chamada Sara) e era estéril. O fato de não terem filhos era motivo de tristeza, especialmente, em uma cultura que valorizava muito a continuidade da linhagem familiar. Nessa época, nem imaginava os planos que Deus tinha para prosperar sua descendência.
Cultura e Religião
Abrão nasceu em Ur dos Caldeus, uma antiga cidade, localizada na Mesopotâmia, situada na região que, atualmente, corresponde ao sul do Iraque. Sua cidade era próspera, culturalmente rica e avançada para a época. No entanto, Deus tinha planos especiais para Abraão, que transcenderiam as fronteiras de sua cidade natal. O ambiente espiritualmente diverso, contrastava totalmente com a fé monoteísta que ele posteriormente abraçaria.
O Chamado
O chamado de Deus para Abrão foi um dos momentos mais significativos de sua vida. Deus ordenou que ele deixasse sua terra, sua parentela e a casa de seu pai para ir a uma terra que Ele lhe mostraria (Gênesis 12:1-3). Essa chamada exigia uma fé extraordinária, pois Abrão não sabia para onde estava indo. Não se tratava apenas de uma mudança geográfica, mas também uma transformação completa, em sua vida. Abrão abandonou uma sociedade pagã para seguir o Deus único. Um forte testemunho de ruptura com o paganismo de sua terra natal para a tradição monoteísta que se desenvolveria a partir de sua linhagem.
A Promessa
Deus fez uma promessa excepcional a Abraão, dizendo-lhe: “Farei de você uma grande nação, e o abençoarei; tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; por meio de você, todas as famílias da terra serão abençoadas.” (Gênesis 12:2-3). Essa promessa não apenas transformou a vida de Abraão, mas também lançou as bases para o desenvolvimento do povo de Israel e para a herança espiritual que continua a influenciar a fé cristã até hoje.
A Resposta
Abrão respondeu ao chamado de Deus com obediência e fé inabalável. Ele deixou Ur, aos 75 anos, e partiu para a terra de Canaã, levando consigo sua esposa Sarai, seu sobrinho Ló e todos os seus bens. Essa jornada marcou o início de uma aliança duradoura entre Deus e Abrão, que se tornaria Abraão, o pai de nações. A disposição em seguir a orientação divina, mesmo sem garantia de segurança ou sucesso imediato, destaca sua confiança em Deus.
A Jornada de Abraão e Suas Provações
A Peregrinação
A jornada de Abraão, de deixar sua terra natal foi marcada por muitos desafios desconhecidos, confiando na providência divina a cada passo. Ele passa por Canaã, onde Deus reafirma sua promessa de dar a terra a seus descendentes. Nesse caminho, enfrentam desafios como a fome, que os leva temporariamente ao Egito (Gênesis 12). Com cerca de 85 anos, Deus anima Abrão renovando a promessa de que ele teria um filho que seria seu herdeiro legítimo (Gênesis 15). Essa promessa ocorre após uns 10 anos de espera e incerteza, marcando mais um ponto crucial na fé de Abraão.
A Mudança de Nomes
A história de Abrão não é apenas sobre fé inabalável, mas também sobre os desafios e interferências humanas nos planos de Deus. Em um momento de impaciência e tentando encontrar uma solução para a promessa não cumprida de um herdeiro, Sarai oferece a sua serva, Agar, como concubina para Abrão. Agar concebe e dá à luz Ismael, criando tensão familiar. No entanto, Deus reafirma ao patriarca, que Sua promessa inclui Sarai e realiza uma mudança significativa nos nomes do casal. De Abrão para Abraão, que significa “pai de uma multidão”, e o nome de Sarai para Sara, que significa “princesa” (Gênesis 17:5, 15). Essa mudança não é apenas simbólica; ela representa uma transformação espiritual, uma nova identidade e uma confirmação das promessas, dentro do plano maior de Deus para a humanidade.
Esses eventos destacam como nossa confiança em Deus é testada e refinada, mesmo diante das interferências humanas e das dificuldades inesperadas. A mudança de nomes, em particular, sublinha a importância da obediência e da fé em Deus, revelando como Ele trabalha através de pessoas imperfeitas para realizar Seus propósitos eternos.
Renovo na Velhice
Finalmente, Abraão recebe a visita de 3 três anjos em Mamre (Gênesis 18), que revelam que Sara, sua esposa idosa, conceberá um filho no próximo ano. Diante dessa notícia, Sara, que ouve a conversa de dentro da tenda, ri de incredulidade. Contudo, os anjos respondem: “Haveria alguma coisa difícil demais para o Senhor?”. Esse encontro é um lembrete poderoso de que Deus age no tempo Dele, renovando Sua promessa mesmo quando parece tarde demais aos olhos humanos.
Nesse trecho, fica evidenciado como Deus opera além das limitações humanas, usando a velhice do casal como um testemunho de Sua soberania e providência. Assim, Abraão e Sara são encorajados a continuar confiando na promessa de Deus, sabendo que Ele é fiel para cumprir o que prometeu.
Cumprimento de Promessas
O Nascimento de Isaque
“E o Senhor visitou a Sara, conforme tinha dito;” (Gênesis 21). No nascimento de Isaque, Abraão era da idade de 100 anos e Sara, apesar de sua idade avançada e da esterilidade, não só gerou como amamentou seu filho. Para nós, fica uma forte reflexão de que quando Deus nos abençoa com algo, Ele também nos dá condição de mantermos, de nutrimos o que Dele recebemos. Isaque não apenas representa a continuidade da linhagem de Abraão, mas também simboliza a capacidade de Deus de realizar milagres além das expectativas humanas.
Teste de Obediência e Fé
O sacrifício de Isaque, descrito em Gênesis 22, é o teste supremo da fé de Abraão. Deus ordena a Abraão que leve Isaque ao monte Moriah e o sacrifique como um holocausto. Apesar do choque e do desafio emocional, Abraão obedece fielmente, confiando que Deus proveria o cordeiro necessário para o sacrifício (Gênesis 22:7-8). No momento crucial, quando Abraão estava prestes a sacrificar Isaque, um anjo do Senhor o interrompeu e disse: “Não estendas a tua mão sobre o rapaz, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho” (Gênesis 22:12). Este evento ilustra como, às vezes, Deus testa nossa fé para ver se ainda O obedecemos, mas sempre providencia uma solução em Sua infinita sabedoria e amor.
Abraão na História Cristã
A Promessa de Deus que Abraão seria o pai de uma multidão de nações não se limita apenas à descendência física, mas também à descendência espiritual, abrangendo todos aqueles que compartilham da mesma fé de Abraão, sejam judeus ou gentios, até aos nossos dias.
Menção no Novo Testamento
Abraão é mencionado em várias passagens do Novo Testamento que destacam sua posição como patriarca da fé, mencionado em Hebreus 11:8-19, conhecido como o “capítulo da fé”. Tiago 2: 21-26 exemplifica como as obras aperfeiçoam a fé, no episódio em que Abraão estava preste a oferecer Isaque como oferta e explica: Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé…” ressaltando que “a fé sem obras é morta”.
O Cordeiro de Deus
Assim como Abraão (Hebreus 11:17), Deus também ofereceu seu único filho como oferta. Assim como Deus proveu um cordeiro para ser oferecido no lugar de Isaque, também ofereceu Seu próprio Filho, prefigurando o Cordeiro de Deus, como sacrifício pelos pecados do mundo, demonstrando Seu amor incondicional e Seu poder redentor. Em seguida, no verso 19 diz que “Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos.” Esse evento aponta para a promessa cumprida em Jesus Cristo, que ressuscitou, assegurando a vida eterna para todos os que creem Nele.
Conclusão
A jornada de Abraão é um testemunho poderoso de como Deus pode mudar completamente nossas vidas, movendo-nos para além das nossas zonas de conforto. Deus instruiu Abraão a sair de sua cidade natal e viajar sem um destino claro. Essa confiança e obediência não apenas transformaram sua vida, mas também estabeleceram um legado eterno de fé.
É notório que Abraão precisou ter disposição para se desapegar de muita coisa para trilhar a jornada de fé e promessas. A instrução “Sai e vai” mostra que as grandes manifestações de Deus envolvem obediência e movimento. Eu, que vos escrevo, vivi situações que deixaram isso muito claro em mim: quando Deus quer nos levar para um próximo nível, Ele nos movimenta. Pode ser desconfortável e até assustador, no início, mas é quando experimentamos o mais de Deus em nossas vidas.
A história de Abraão nos lembra que, mesmo quando não entendemos o caminho ou o destino, podemos confiar que Deus está nos guiando para algo maior e melhor. É preciso entender que Ele só revela o segundo passo, se tivermos fé para dar o primeiro. Que possamos viver o que diz em Hebreus 11:1, que a fé é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”, crendo que Deus cumpre o que promete.