Contradizendo o Ditado “Quem Não é Visto Não é Lembrado”

Você gosta de estar sempre em evidência? Na era moderna, a sociedade parece exigir que estejamos constantemente no centro das atenções, seja nas redes sociais, no trabalho ou em nosso círculo social. O ditado “Quem não é visto, não é lembrado” reflete essa mentalidade, sugerindo que, para sermos reconhecidos, devemos estar sempre visíveis, em destaque e conectados. 

Nem sempre a visibilidade é sinônimo de valor. Momentos de anonimato podem significar parte essencial para habilitação em qualquer área. Embora estar sempre em evidência seja uma estratégia eficaz, especialmente no mundo dos negócios, é salutar que essa pressão não nos torne escravos pela busca incessante por validação, fazendo-nos acreditar que o nosso valor depende da frequência com que somos vistos. 

Estar fora dos holofotes, ainda que não planejado por nós, não é o “fim do mundo”. Iremos refletir que, às vezes, o próprio Deus nos esconde, mas é estratégico. Veremos, neste artigo, exemplos de personagens bíblicos que saíram do completo anonimato como um elemento surpresa para cumprir propósitos inesperados.

A Pressão pela Visibilidade Constante

A frase “Quem não é visto, não é lembrado” tem suas raízes profundamente conectadas com as estratégias de mercado, ciência comportamental e publicidade. Como veremos à seguir:

Base Mercadológica

No mundo dos negócios e da publicidade, a visibilidade é uma moeda poderosa. As marcas investem pesadamente em campanhas para manter seus produtos e serviços constantemente à vista do público, com a intenção de garantir que os consumidores os escolham quando necessário. Essa lógica vem da ideia de que, quanto mais as pessoas veem algo, mais elas se lembram e definem isso. Há estudos que confirmam essa tese: a reprodução de estímulos visuais ou auditivos cria familiaridade, e essa familiaridade, por sua vez, gera confiança e preferência.

Base Científica

No âmbito científico, especialmente nas ciências comportamentais, a exposição frequente é uma técnica conhecida como “efeito da mera exposição”, que sugere que os seres humanos tendem a desenvolver uma preferência por algo, simplesmente por serem expostos a isso repetidamente. Em outras palavras, o que vemos com mais frequência fica em nossas mentes de forma mais eficaz.

Base Publicitária

Na publicidade, essa frase movimenta as marcas. O resultado disso é que as pessoas também começaram a se sentir pressionadas a estar “à vista”, com medo de serem esquecidas ou deixadas de lado. Seja nas redes sociais ou no ambiente de trabalho, essa pressão para estar sempre presente e visível pode gerar uma ansiedade constante para se manter relevante e lembrado.

A Tese do Artigo 

A partir de agora, iremos contradizer a expressão “Quem não é visto, não é lembrado”, não desconsiderando sua abrangência, mas visando minimizar a pressão que muitas pessoas enfrentam ao tentar se manter constantemente em evidência. Por meio de exemplos bíblicos, evidenciaremos como momentos “fora dos holofotes”, na verdade, podem ser necessários para aquisição de habilidades e competências essenciais para um estágio de prosperidade vindoura, que, inevitavelmente, atrai alguma visibilidade.

Moisés: Escondido e Habilitado

Período de Anonimato e Esquecimento

Moisés é um bom exemplo de alguém que passou por um longo período sem ser notado. Ele começou a sua vida no palácio do Faraó, rodeado de luxo e poder. No entanto, tudo mudou quando, ao defender um hebreu, teve que fugir para o deserto de Midiã, onde, por 40 anos, viveu uma vida simples, longe do esplendor do Egito e da vista dos poderosos. 

A Missão

Em Êxodo 3:1-10, enquanto cuidava de ovelhas, Moisés foi surpreendido por um encontro com Deus em uma sarça ardente, convocando-o para uma missão grandiosa: libertar o povo de Israel do período de trabalho forçado no Egito. Imagine, depois de anos sem notoriedade, ele agora recebeu o chamado mais importante de sua vida. 

De Não Lembrado a Inesquecível

Durante 40 anos no deserto, Moisés poderia ter pensado que seu tempo de relevância havia passado. Seu período de anonimato foi, na verdade, um tempo de preparação para se tornar o inesquecível libertador de Israel. A trajetória de Moisés nos lembra que, o tempo fora dos holofotes, podem ser traduzidos como habilitação para uma virada da história.

José: Lembrado Estando na Prisão

Sequência de Abandonos

José foi eliminado. Traído pelos próprios irmãos, foi jogado em uma cisterna, vendido como escravo e, mesmo depois de ser favorecido no palácio de Potifar, sofreu uma nova traição, que o levou a ser injustamente condenado à prisão. E o que é mais doloroso? Mesmo tendo ajudado quem poderia ajudá-lo, permaneceu esquecido, agora, dentro das paredes frias da cadeia. 

O Tempo de Preparo

Mesmo na prisão, José se destacou na administração e tudo em que colocava a mão prosperava. Ele também exerceu seu dom de interpretar de sonhos, que, mais tarde, se tornaria crucial para sua ascensão. Em Gênesis 39:23, lemos que “o carcereiro não se preocupava com nada que estava sob o poder de José, porque o Senhor estava com ele”. Ainda que ninguém o enxergasse, em todas as situações desfavoráveis, Deus o contemplava.

De Presidiário à Governador

Quando finalmente foi lembrado, José amanheceu como preso e anoiteceu como governador, uma posição nunca vista no Egito, abaixo apenas de Faraó. A série de abandonos que José passou, serviu para acumular habilitações para uma virada inimaginável. Além de interpretar os sonhos que perturbaram Faraó, deu instruções de administração que foram essenciais para salvar o Egito e sua própria família da fome.  O resultado final superou qualquer recompensa temporária. Mesmo estando invisível na prisão, José era visto por Deus, que o fez ser lembrado e promovido além das expectativas.

Davi: Escolhido Sem Ter Aparência

A Procura de um Rei

O profeta Samuel recebeu uma direção de Deus para ungir o novo rei de Israel, dentre os  oito filhos de Jessé, que  passou a apresentá-los um a um. Tanto o profeta quanto o pai, esperava que a escolha fosse, obviamente, um dos filhos mais velhos, mais fortes e aparentemente preparados para liderar. Entretanto, em 1 Samuel 16:7, Deus adverte a Samuel: “O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração.” Você já julgou alguém, somente pela aparência?

Esquecido Enquanto Trabalhava

Após sete filhos serem apresentados, Samuel perguntou se havia mais algum e, somente então, Jessé se lembrou de Davi, seu filho mais jovem, que estava cuidando das ovelhas da família. Então disse o profeta: “não nos assentaremos à mesa, até que ele venha.”(1 Samuel 16:11). Seu próprio pai, Jessé, não imaginava que o jovem pastor poderia ser o próximo rei de Israel. No entanto, foi exatamente enquanto estava nesse papel considerado insignificante, que Davi estava sendo preparado. Ele enfrentou leões e ursos, desenvolvendo coragem, fé e habilidades, que mais tarde seriam cruciais para sua liderança. 

De Pastor de Ovelhas a Rei

Quando Davi apareceu, Deus confirmou a Samuel, e ali mesmo, na presença de seus irmãos, foi ungido como futuro rei de Israel. Se não fosse pela insistência de Deus, Davi jamais seria escolhido, pois ele não estava em destaque, mas estava no lugar certo, visto por Deus. Tempos depois, no famoso embate contra os filisteus, em que todo o exército de Israel estava amedrontado pelas afrontas do gigante Golias, Davi, que não havia sido convocado para a guerra, por não ter idade para o alistamento, chega como um elemento surpresa de Deus, e põe fim ao embate. E assim, o pastor de ovelhas trilhou o caminho para se tornar o rei mais famoso de Israel.

Gideão: Escolhido Enquanto se Escondia 

Gideão é Encontrado

Houve uma época em que os midianitas invadiram e destruíram as plantações do povo de Israel, roubando seus recursos e deixando-os  em desespero. Era emergente que se levantasse um exército de homens corajosos para defender a nação. Mas Gideão, que era agricultor, estava longe de ser essa figura heroica. Temendo ataques dos midianitas, adotou uma estratégia peculiar: malhava trigo em um lagar, local normalmente usado para pisar uvas. Essa ação revela a astúcia e prudência de Gideão em tempos difíceis. Por isso, enquanto se escondia, Gideão foi encontrado por Deus e chamado para liderar e trazer libertação para o povo (Juízes 6).

De agricultor a Juiz

O Anjo do Senhor apareceu a Gideão e o chamou de “homem valente” (Juízes 6:12). A ironia é que Gideão não se via assim, sentindo-se incapaz. Mas Deus enxergou o que ninguém mais via: o potencial para liderança e vitória. De agricultor temeroso, Gideão se tornou juiz de Israel e venceu um exército grandioso com apenas 300 soldados. Longe de qualquer destaque, Deus o observava e estava equipando-o para uma missão maior.

Quem Te Fez Não Te Esquece

Sempre te Viu

Na esfera pessoal, é comum nos sentirmos insignificantes quando não somos notados. Jeremias se sentiu assim, no início do seu ministério, até que Deus lhe revelou uma verdade profunda que se aplica a nós: “Antes de formá-lo no ventre, eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações”. (Jeremias 1:5). Deus não só conhecia Jeremias, antes de seu nascimento, como também tinha um plano especial para ele. Qual a reflexão? Essa revelação traz o consolo de que, ainda que ninguém “aposte” em nós, o Deus que nos fez, nos fez com uma identidade e para um propósito. Você consegue crer?

Do Secreto ao Público

Em Mateus 6:6-7, Jesus nos ensina sobre o poder do que fazemos em segredo: “feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.”. Os termos “quarto” e “fechar a porta” referem-se a um lugar longe do público e sem distrações, pois o Senhor é um Deus de segredos. Esse versículo não se limita apenas à oração diária, mas pode incluir, também, fases da nossa vida em que o estratégico é, justamente, não se expor. Deus tem um jeito peculiar de agir e recompensar em público, por aquilo que fizemos com sinceridade e fé, no anonimato.

Nunca Te Esquecerei

A promessa de Deus de nunca nos desamparar é uma fonte de grande conforto e segurança. Em Isaías 49:15-16, Deus nos assegura que, mesmo que uma mãe possa esquecer seu filho, Ele nunca nos esquecerá. Ele afirma: “Eis que te gravei nas palmas das minhas mãos”, uma prova de que somos sempre lembrados, mesmo quando nos sentimos esquecidos pelo mundo. Da mesma forma, em Hebreus 13:5, Deus promete: “Nunca te deixarei, nunca te abandonarei.” Essas palavras reforçam que, ainda que “amigos” nos esqueçam, Deus nunca nos perde de vista.

Conclusão

Não vistos, mas lembrados. José foi lembrado estando na prisão; Davi, enquanto trabalhava no pasto; Moisés, após 40 anos, no deserto; Gideão, enquanto se escondia; e Jeremias ficou confortado ao descobrir que Deus o conhecia desde o ventre de sua mãe. O que todos esses exemplos evidenciam? Que podemos ser, temporariamente, invisíveis pelas pessoas, mas sempre seremos vistos e conhecidos por Deus e nascidos para um propósito.

Reconhecemos a abrangência do ditado popular “Quem não é visto, não é lembrado.”, mas trouxemos uma perspectiva bíblica que transcende essa visão, mostrando que Deus sempre agiu em favor dos “rejeitados”. Quando Ele esconde, ninguém acha e quando Ele evidencia, ninguém esconde. Sendo assim, entendemos que há um tempo certo para todas as coisas debaixo do céu, como diz Eclesiastes 3. 

Refletindo a Sabedoria do tempo, entenderemos que as fases em que não somos notados, são oportunidades para ampliar conhecimento, experiências, reorganizar emoções, nos preparar para o próximo nível. Lembre-se: nos “negócios” de Deus, mesmo não sendo visto, você pode ser lembrado. E melhor, ser inesquecível.

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