O Luto que Cega e a Verdade que Revive: A Imagem da Túnica Que Testou a Fé de Jacó

Você já se deparou com uma imagem tão forte que não teve forças para questionar a veracidade da situação? Foi o que aconteceu com Jacó. De linhagem patriarcal e herdeiro de uma grande promessa, um homem experiente, viveu anos aquém de seu chamado, por causa da influência de uma imagem enganosa.

Jacó tinha 12 filhos e predileção pelo décimo primeiro, a quem deu-lhe uma túnica colorida. Esse filho sofreu uma emboscada e foi vendido como escravo. A Jacó, enviaram uma túnica manchada de sangue e isto testou sua fé. Tomado pela cena, ele, imediatamente, declarou que o filho estava morto, sem sequer questionar a verdade. Viveu muitos anos em luto, até descobrir a verdade que o fez reviver.

Isso nos faz refletir: quantas vezes somos levados pelas emoções e pelo que vemos, sem ao menos questionar se o que está diante de nossos olhos é verdade? Essa história vai nos confrontar a checar o que nossos olhos veem e nos mover pelo que cremos (2 Coríntios 2:7).

O Contexto de Jacó como Patriarca

A Determinação de Jacó

Jacó, cujo nome em hebraico significa “aquele que segura pelo calcanhar”, nasceu segurando o calcanhar de seu irmão gêmeo mais velho, Esaú. Vamos ressaltar 3 episódios que destacam sua determinação: Primeiramente, em um momento em que Esaú estava com muita fome, Jacó conseguiu adquirir seu direito de primogenitura em troca de um prato de lentilhas. Entretanto, para receber essa benção da primogenitura, ele cobriu seu corpo com pele de animal, para que seu pai Isaque, já cego, acreditasse que ele era Esaú e lhe transferisse a benção. Por fim, ele trabalhou sete anos para se casar com Raquel, mas foi enganado por seu sogro, que lhe deu Lia, a irmã mais velha. Determinado, Jacó trabalhou outros sete anos, até finalmente casar-se com Raquel. Essas experiências mostram que Jacó era astuto e determinado a lutar pelo que considerava seu, por direito.

Novo Nome e Nova Identidade

Sua transformação veio, em mais um momento de determinação, após seu encontro com Deus, quando lutou com um anjo (Gênesis 32:28) e, como marco de sua nova identidade, teve seu nome mudado, conforme descrito Gênesis 35:10-12: “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel… frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos.”. Esse momento simbolizou não apenas uma mudança de nome, mas uma renovação espiritual de Jacó como o patriarca que levaria adiante as promessas feitas ao seu avô, Abraão.

A Túnica Colorida

Jacó deu uma túnica colorida ao décimo primeiro de seus 12 filhos, como um símbolo de seu favoritismo, mas, também, havia implicações mais profundas, ligadas à primogenitura. Embora José não fosse o primogênito, ele era o primeiro filho de Raquel, a esposa preferida de Jacó. A túnica, uma peça rara e ornamentada, era tradicionalmente associada à realeza ou à liderança, o que pode sugerir que Jacó via em José um herdeiro de sua bênção familiar, semelhante à primogenitura.

Atrito na Casa da Promessa

O Escolhido Para Liderar

Nesse momento da trajetória de Jacó, a casa da promessa estava em atrito. Mesmo não sendo o mais velho, José parecia ser o escolhido de Jacó para continuar a linhagem de bênção e promessa, o que gerou ciúme entre seus irmãos. A túnica era a evidência da predileção de Jacó por José e os irmãos mais velhos já não conseguiam falar com ele pacificamente.

A Palavra Que Não Poderia Ser Esquecida 

A situação se agravou quando o jovem compartilhou dois sonhos. No primeiro, o feixe de José se levantava por último, sugerindo que todos os irmãos teriam seu momento de honra, na casa da promessa. Porém, o que trouxe perplexidade, foi o fato de que, por fim, todos os feixes se inclinaram perante o molho de José. O segundo sonho era semelhante e com significado claro: José seria colocado em uma posição de autoridade, e Deus estava revelando Seu plano para a família (Gênesis 37:5-9).

A Diplomacia de Jacó

Talvez, numa tentativa de minimizar o ódio dos filhos mais velhos, Jacó escolheu agir diplomaticamente e repreendeu a José, dizendo-lhe: “Porventura viremos, eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?”. Contudo, ao “guardar este negócio no coração”, o patriarca revelou que, apesar da repreensão inicial, reconhecia o potencial profético que havia nos sonhos (Gênesis 37:10-11).

A Túnica Suja de Sangue e o Teste de Fé

A Trama dos Irmãos

Os filhos mais velhos venderam o caçula de Jacó. Para encobrir o que fizeram, mataram um bode, pegaram a túnica especial de José e sujaram-na com sangue, a fim de apresentá-la como prova de sua morte ao pai.  Porém, não tendo estrutura emocional para sustentar a narrativa, encomendaram-na à um mensageiro com o seguinte recado: “Achamos esta túnica; acaso não é a túnica de teu filho?” (Gênesis 37:31-33). 

O Poder da Imagem 

O engano foi tão bem armado e impactante, que Jacó, ao ver a túnica manchada, imediatamente concluiu que José estava morto, afirmando: “É a túnica de meu filho; uma besta fera o comeu, certamente José foi despedaçado” (Gênesis 37:33). Ele deu uma sentença definitiva sem buscar qualquer outra explicação ou confirmação, nem ao menos perguntou onde foi, como foi, se o sangue era mesmo de José. Assim como Jacó, quantas vezes nós também assumimos o pior ao nos depararmos com algo que vemos? 

Não Guardou o Coração

Aqui, reside uma questão importante: embora Jacó tenha “guardado no coração” as revelações sobre José, ele não “guardou o coração” como nos alerta Provérbios 4:23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida.” e isso lhe trouxe prejuízo emocional, durante o tempo em que Deus estava levantando José para cumprir as promessas, que estavam sobre ele e sua descendência. Quando o coração não está protegido, até mesmo alguém experiente como Jacó pode ser enganado pelas aparências.

O Luto de Jacó

O Luto Prolongado

Jacó rasgou suas vestes em profundo luto e recusou ser consolado, dizendo que desceria ao túmulo pranteando seu filho (Gênesis 37:34-35). Perder a José representava perder sua conexão com Deus; como se a promessa sobre sua vida e sua casa tivesse sido invalidada. Essa tristeza durou muito mais que alguns dias; foram 20 anos de amargura, aprisionado pela forte influência da visão da túnica ensanguentada até, finalmente, descobrir que José estava vivo.

O Abalo da Identidade Espiritual

Quando Jacó foi renomeado Israel, isso simbolizava uma transformação significativa em sua identidade espiritual e propósito. Representava o homem que carregava a promessa e guiaria uma nação. No entanto, entre os capítulos 38 a 42 de Gênesis, período da perda de José até o momento em que o patriarca manda os filhos irem ao Egito comprar comida, as Escrituras chama-o apenas de Jacó, sugerindo que ele havia regredido a um estado emocional e espiritual fragilizado. 

Fé e Emoções

Jacó se guiou pelo que viu, em vez de andar pela fé (2 Coríntios 5:7). Mesmo sendo o portador de uma grande promessa, não soube administrar a perda de José, a ponto de viver em luto por alguém que, na verdade, estava vivo. Gênesis 37:35 mostra como o abalo emocional o conduziu ao luto que paralisou sua fé: “Chorarei até descer ao meu filho no túmulo.” Jacó, ao se guiar pelo que viu, permitiu que suas emoções o fizessem esquecer a promessa, trocando temporariamente sua identidade espiritual de “Israel” pelo velho “Jacó”.

A Sentença

Ele não ouviu dos mensageiros que seu filho tinha morrido, ele mesmo declarou a sentença com base numa realidade enganosa. Não é sábio declarar algo que não foi checado, ou que não desejamos que seja a verdade. Na dúvida, é melhor ficarmos calados. Provérbios 18:21 nos lembra que “a morte e a vida estão no poder da língua.” O inimigo não pode anular as promessas de Deus, mas busca nos enganar, abalar nossas emoções, para que confessemos uma realidade que não condiz com a verdade divina. 

A Dor do Luto e a Verdade que Revive

A Verdade Descoberta

Jacó passou 20 anos de sua vida achando que o filho estava morto e com ele sua relação com Deus. Enquanto isso, seu Filho não apenas prosperou como se tornou governador do Egito e administrava os mantimentos, numa época de grande fome. Jacó, então, sabendo que apenas no Egito havia comida disse aos filhos “descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos”. Mal sabia, que os filhos se reencontrariam e que, portanto, estava prestes a saber a verdade sobre seu José, e no fim de seu luto.

Coração Enlutado

Ao se reencontrarem, José perdoa os irmãos, declarando que para aquela ocasião havia sido enviado ao Egito e se cumpriu os sonhos da juventude. Os irmãos voltaram e deram a notícia ao velho, dizendo: “José vive ainda, e é governador em toda a terra do Egito”. No entanto, a primeira reação de Jacó não foi de alívio imediato, mas de incredulidade, pois “seu coração desmaiou, porque não os acreditava.” (Gênesis 45:26). A espera prolongada havia desgastado seu coração, mostrando o quanto as emoções podem enfraquecer nossa fé quando esperamos por muito tempo sem ver resultados visíveis (Provérbios 13:12).

O “Basta” de Jacó

O que tinha abalado Jacó não era o “ouvir”, mas o “ver”. Portanto, quando ele ouviu as palavras dos filhos, não creu, mas quando viu os carros que José havia enviado para buscá-lo, reviveu-lhe o espírito. E disse: “Basta; ainda vive meu filho José; eu irei e o verei antes que morra.” (Gênesis 45:27-28). Nesse momento, o luto de Jacó chegou ao fim, e agora, como Israel, foi ao encontro do filho. É fascinante como a esperança restaurada trouxe de volta sua identidade espiritual. O que parecia impossível aos seus olhos tornou-se uma realidade. Se o poder da imagem da túnica ensanguentada o levou ao luto, agora, a cena dos carros enviados para buscá-lo, que confirmavam o que os filhos haviam dito, o revigoraram. 

O Fim do Luto

O reencontro entre José e Jacó é muito emocionante. Gênesis 46:29 descreve: “Então José se apresentou a ele, lançou-se ao seu pescoço, e chorou sobre o seu pescoço longo tempo.” Após tanto sofrimento e anos de separação, o reencontro revigorou Jacó e sua confiança de que Deus não o havia esquecido. Naquela época, ele tinha 130 anos e viveu mais 17. Essa cena nos lembra que, apesar das dificuldades e enganos temporários, Deus cumpre Suas promessas. 

Conclusão

A história de Jacó nos ensina que o coração humano é vulnerável e pode ser facilmente enganado pelas aparências. A imagem da túnica ensanguentada foi tão forte para Jacó, que o fez mover-se pelo que viu e não por fé. Isso mostra o quanto é necessário, além de “guardar no coração”, também “guardar o coração”, não permitindo, que as circunstâncias nos façam duvidar do que Deus já decretou a nosso respeito.

O inimigo tenta enfraquecer nossa alma e perturbar nossas emoções, usando-se de mentiras e criando cenários de caos, para que acreditemos no pior. Por isso, é preciso confrontar situações que vemos, mas que não se alinham com o que ouvimos, que nos foi revelado, da parte do Senhor. De imediato, Jacó se humilhou diante de Deus, mas não conseguiu fortalecer sua fé e encontrar consolo. Mas sua promessa continuava viva e o plano de Deus prosseguia sendo cumprido, no filho.

Assim como Jacó, finalmente, deu um basta em seu luto, foi restaurado e voltou a ser chamado de Israel, Deus nos oferece a chance de restaurar nossa fé e identidade Nele. Em Nome de Jesus, aquilo que te abateu, Deus usará para te levantar. O reencontro de José com Jacó simboliza a graça divina, que corre ao nosso encontro, renovando nosso espírito. Que as verdades, que tem o poder de nos tirar do luto e fazer nosso espírito reviver, nos encontrem.

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